terça-feira, 28 de agosto de 2007
Revanches
Revanche é uma dessas burrices. Pior ainda, além de fazer você desperdiçar seus recursos preciosos, ela também faz com que você “ande para trás”, seja uma pessoa inferior, infeliz.
Primeiro, a revanche nasce de longas e penosas horas de pensamentos ruins. Idéias negativas que foram cultivadas e alimentadas em sua mente através de inúmeras repetições de um tipo de “filme”, onde você é o personagem que sofre!
Lembre-se que seus pensamentos têm grande poder sobre o seu futuro. Se você projeta uma imagem de sofrimento a seu respeito, tenha certeza que será exatamente isso que irá acontecer contigo. A natureza sempre irá conspirar para que todos os seus pensamentos sobre você mesmo tornem-se, um dia, realidade. Quando você passa horas lembrando de alguma coisa ruim que alguém fez para você, na verdade a única coisa que você está fazendo é criar as possibilidades reais de concretização de mais sofrimento para você...além de perder tempo e energia.
OK! Você já sabe disso! Mesmo assim, indignado com alguma agressão, cheio de raiva e ódio no coração, você começa a traçar planos para prejudicar aquela pessoa que, por alguma razão, o fez sofrer no passado. Sente-se como “a” vítima. Existe muita pena de você mesmo. Julga o seu gigante agressor culpado por esse crime contra você, a pobre criatura.
Notou como esses pensamentos o tornaram inferior, incapaz, incompetente para manter a sua dignidade e classe, ignorar o sofrimento e seguir no seu caminho. É como atestar que aquilo que foi feito contra você é muito superior aos seus objetivos. Seguindo nessa idéia, portanto, quanto menor for a agressão feita, porém merecedora da sua atenção e da sua revanche, quanto menor também é a importância que você declara de seus objetivos, dos seus sonhos, pois você está deixando de trabalhar para atingi-los em prol dessa nova prioridade: a revanche, a vingança!
Pense nisso: o que o inimigo mais quer? Não seria impedir que você conquiste os seus sonhos? Que você seja infeliz. No momento em que você alimenta pensamentos ruins, sente-se infeliz e com pena de si mesmo, espumando ódio e dedicando tempo e energia para planejar e executar uma revanche, o inimigo está vencendo. Você está fazendo exatamente o que ele quer. Parabéns! Você acabou de ganhar o título de idiota do ano!
Se essa razão ainda não foi suficiente para convencê-lo, lembre-se disso também: o resultado da revanche é sempre contra você mesmo! O “prazer” de prejudicar alguém é rapidamente substituído por medo, remorso, e outros sentimentos ainda mais terríveis. O “doce sabor da vingança” é simplesmente o gosto do veneno que você mesmo ingere ao fazer mal para alguém. Trazer a “justiça” para as próprias mãos significa tirar a justiça das mãos Daquele que realmente tem esse direito e dever. Alguém que sabe muito mais do que você. Se você não acredita nisso, basta esperar. Vingado, você ainda tem uma vida para viver e ser julgado, e depois não adianta reclamar “da sorte”.
Alguém muito sábio disse um dia para, após a agressão, “oferecer a outra face”. Assim, quando prejudicado ou agredido, não gaste tempo e energia lembrando do fato infeliz, ou planejando e executando vinganças. Deixe a justiça nas mãos de quem de direito. Continue a trabalhar para o seu próprio sucesso. Concentre suas forças e seus recursos nessa direção. Não se inferiorize. Não trabalhe para o inimigo. Não sinta pena de você mesmo, sinta orgulho! Tenha fé e persistência. Ofereça ajuda. Mostre ao seu inimigo que você é muito maior do que seus fúteis esforços. Sorria aberta e descaradamente da sua patética tentativa de tirá-lo de sua trajetória de felicidade e siga em frente com a cabeça erguida.
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Demorou, mas chegou...
Ela havia sido backup em 1986, quando a tragédia do Challenger aconteceu. Não se abateu. O programa de professoras no espaço foi cortado, ela foi para a floresta, dar aulas em uma pequena escola. Conheceu Clay, seu marido, um ex-bombeiro de combate a incendios florestais. Hoje ele é escritor. Ela voltou para a NASA, sempre na área de educação. Foi selecionada para a turma "Penguins", a "classe 17 de astronautas", a minha turma!
Sábia, mais velha, ela sempre foi a conciliadora. Dona da harmonia e regente da paz entre todos nós. Merece, com todas as honras, todas as homenagens que serão feitas depois do vôo.
Hoje ela está na ISS. Olhando dias e noites passarem rapidamente pelas janelas da espaçonave. Estrelas, continentes verdes, mares azuis.
Parabéns Bárbara! Que sua missão seja plena de êxitos e felicidades. Que seu retorno seja suave e seguro. Que você consiga ensinar, coisa que faz tão bem, para amigos e desafiantes, qualidades das melhores, qualidades que tens de sobra, e assim possa também fazer de nós, pessoas melhores.
Aqui no Brasil, tenho a satisfação de encontrar, na semana que vem, meus companheiros de missão espacial: o Astronauta Jeff Williams, Coronel da Reserva do Exército Americano e o Cosmonauta Pavel Vinogradov, Civil.
Irmãos de espaço, confiamos a vida um ao outro. Coisa rara hoje em dia.
Estaremos cumprindo uma intensa agenda junto ao SENAI, Universidades, Centros de Pesquisas, Unidades da Força Aérea, etc. Vale a pena conferir na nossa página.
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Mantenha a calma
Essa era uma das frases do poema “Se” de Rudyard Kipling, escrito em uma das paredes do pátio da Academia da Força Aérea, em Pirassununga, SP, no meu tempo de cadete. Naquela época, eu lia aquelas frases, decorava suas palavras, mas não percebia completamente a importância do seu significado. Ficávamos ali, em pé, olhando para aquelas paredes durante horas, em formaturas intermináveis. Todas as noites, todos os dias. Hoje, passados muitos anos e muitas experiências de vida, sei exatamente o valor daquele ensinamento.
“Manter a calma” pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso, entre a vida e a morte, em especial para um guerreiro, para um combatente, para um astronauta! Na vida, assim como no campo de batalha, temos objetivos a cumprir. Temos também inúmeros obstáculos e distrações que tentam a todo instante nos tirar do caminho e desviar a nossa atenção do que é realmente importante para conquistarmos o sucesso. O inimigo faz a sua parte, colocando todos os seus esforços em sua tentativa constante de nos abater física e, principalmente, mentalmente. Ele tenta derrubar o moral da tropa. Ele sabe que isso é o mais sério. Um combatente ferido tira dois soldados da batalha.
Contudo, em resposta aos ataques do inimigo, se mantivermos a calma, o bom humor, e a atitude positiva, todos focados nos nossos objetivos, teremos tempo de sobra para ver os olhos de desespero do inimigo ao nos aproximarmos da vitória. Não existe nada mais terrível para ele do que ver suas tentativas, com toda a sua energia e recursos, gastos inutilmente. Isso o faz mais fraco e temeroso, deixando-o susceptível ao nosso ataque fulminante.
No dia-a-dia, muitas vezes temos a tentação de deixar as nossas emoções negativas tomarem decisões por nós. Queremos resolver aquele nó na garganta, aquele fervor no estômago, ali, naquele instante. Descontar tudo sobre aquele “culpado” que identificamos e condenamos a receber toda a nossa ira por estarmos naquela situação desagradável. Depois, passado o momento, com a nossa mente reinstalada no nosso cérebro, e ainda com o gosto amargo da revanche espumando na boca, começamos a fazer o inventário das nossas ações impensadas. Remorso, desespero, urgência de fazer alguma coisa para corrigir a besteira, etc, são sentimentos comuns nessa hora. “Se eu tivesse pensado melhor…se eu tivesse tido um pouco mais de calma! Por que fiz essa besteira!” Mas aí já é tarde demais, normalmente. Pessoas já foram feridas, coisas já foram destruídas.
Ter calma! O que significa, realmente, isso? A vida mostra que “ter calma” significa ter a coragem para esperar mais um segundo. Pensar antes de agir. Manter a mente focada no objetivo maior. Ter autoconfiança suficiente para não se deixar levar pela situação, mas sim comandar as ações com inteligência e elegância. Um insulto só fere o moral do seu autor. Ele é que não foi capaz de encontrar argumentos mais inteligentes para a discussão. Se você se preocupa com “o que vão pensar de mim”, lembre-se que a opinião de momento de outras pessoas só tem valor se a soma delas tiver algum benefício real para você. Essa opinião é como fumaça ao vento. Se você tiver uma atitude firme, previsível, constante e sensata, a opinião duradoura sobre você, aquela que realmente interessa, será sempre o reflexo desse comportamento virtuoso.
Além da raiva, o medo também tenta nos tirar do estado de calma. A mão fica trêmula. O coração acelera. A mente divaga em pensamentos de tragédia. O foco fica prejudicado. Isso é uma reação natural de auto-preservação. Não deixe que o medo tenha domínio. Lembre-se sempre que as suas ações são a sua melhor proteção, não os seus pensamentos. Para isso, é necessário ter seus sentidos aguçados. Use o medo para isso. Use-o a seu favor. Continue o procedimento. Respire fundo. Pense no próximo passo, não na possível conseqüência. Controle sua fala. Concentre-se nisso. Transmita informações com voz firme e pausada. Uma palavra de cada vez. Isso ajudará a outras pessoas, ao seu redor, a também controlarem as emoções, vencerem o medo e contribuírem positivamente contigo para, juntos, saírem daquela situação de risco.
Existe uma estória interessante sobre como a calma pode derrotar o medo e os inimigos. No tempo dos samurais, no Japão antigo, havia a tradição das academias receberem os samurais errantes para que os mesmos demonstrassem as novas técnicas aos discípulos locais.
Em troca da demonstração, feita em forma de desafio de luta ao mestre da academia, o samurai ganhava uma refeição e uma noite de descanso. Um dia, um desses samurais chegou exausto e faminto a uma pequena cidade. Quase sem forças, mas com a postura inabalada, procurou pela academia local e desafiou o mestre conforme a tradição. Em sua mente, sabendo de sua condição física extremamente debilitada, ele planejou ficar praticamente imóvel durante o combate, apenas esperando que seu oponente o atingisse e vencesse a luta. Dessa forma, ele poderia ganhar sua refeição e descansar o mais rapidamente possível.
A luta iniciou formal, como de costume. Os discípulos postados de joelhos assistindo atentos a todos os movimentos do mestre e de seu oponente forasteiro. Após o cumprimento inicial, o samurai ficou parado, conforme o seu plano. Olhos fixos nos olhos do mestre, espada baixada. Mente fixada no prato de comida. O mestre, ao ver aquela situação, e sem saber dos planos do samurai, começou a divagar: “Por que ele estaria tão parado? Esse samurai deve ter uma técnica muito precisa, rápida, eficaz, perigosa, infalível! Assim eu me mover, ele deverá me acertar e derrubar. Tudo rápido como um raio!”
Seu coração estava acelerado. As mãos mal seguravam a espada de madeira, que pesava como nunca. O suor escorria e brilhava sobre a face pálida. Olhava para os alunos: “o que eles pensarão de mim quando esse poderoso samurai me derrotar?”
Vencido pelo seu próprio pânico, ele finalmente jogou a espada no chão e postou-se de joelhos perante o oponente imóvel. “Eu desisto! Por favor, conte-nos sobre essa sua técnica infalível!”
O samurai, sentou-se, exausto e surpreso e falou: “não existe nenhuma técnica, estou fraco e faminto, apenas esperava que tudo terminasse rapidamente. Eu não venci nenhuma luta, você é que se deixou derrotar!”
Assim, perante o medo ou à raiva, respire fundo! Encare o inimigo nos olhos! Acredite em você! Lembre-se, se você mantiver a calma, você terá todas as chances de vencê-lo! Nunca se esqueça disso.
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
Compaixão
Todos nós precisamos de alguém algum dia. Por mais independente, dura, egoísta ou anti-social que a pessoa tenha se tornado na idade adulta, seja lá por qual razão, certamente esse mesmo adulto, hoje infeliz, já foi feliz um dia, quando criança. Já sentiu o amor de alguém. Já sentiu o carinho e a compaixão de outro ser humano, provavelmente a mãe ou o pai, que, por horas a fio, no meio da noite, carregou no colo, embalou e consolou o choro da criança assustada que adormeceu na calma do abraço seguro.
Muitas vezes não nos damos conta da importância de uma palavra de consolo, uma lembrança, um telefonema, uma palavra de motivação. Já notou que algumas vezes acordamos pensando em uma pessoa, alguém que não vemos há muito tempo. Passamos o dia lembrando desse amigo, com vontade de ligar para matar a saudade, colocar o assunto em dia, ou simplesmente perguntar: “tudo bem contigo?” É como se “alguém” estivesse nos dizendo alguma coisa. Porém, muitas vezes os afazeres da nossa rotina, ou o medo de ser interpretado como “esotérico”, nos impede de fazer aquela ligação.
Por outro lado, você já pensou que realmente aquela pessoa poderia estar precisando de sua ajuda, de uma palavra amiga, precisando “exatamente” de você como única e última esperança em um momento difícil da vida...e você não estava lá, não ligou?
Não tenha medo de parecer “esotérico”, “ultra-sensível”, ou qualquer coisa assim. Com certeza, isso não vai prejudicar a sua vida. Mas a sua omissão pode ser questão de vida e morte para alguém. Assim, ouça aos seus instintos, siga seu coração, tenha compaixão!
Muita gente confunde compaixão com pena. Contudo, essas são coisas muito diferentes.
Pena é um sentimento sem ação, normalmente acompanhado de um sentimento de superioridade. Uma sensação de tristeza que surge ao testemunharmos o sofrimento de outras pessoas. Porém, não permitimos ligação, não tomamos qualquer providência sobre as causas daquele sofrimento. Não ajudamos, não oferecemos ajuda, nem sequer uma prece. Simplesmente viramos as costas com um gosto amargo na boca, com um certo alívio pela nossa “superioridade”, ou com medo de que aquilo poderia um dia acontecer conosco. Procuramos esquecer o assunto e voltamos ao que estávamos fazendo no nosso dia-a-dia.
Compaixão é compartilhar a dor e fazer alguma coisa. Testemunhar o sofrimento de outra pessoa e colocar-se ao seu lado, oferecer ajuda, uma palavra, uma prece, um abraço. Estar junto, como ser humano.
Lembro de uma história que ouvi sobre dois recém nascidos, um casal de gêmeos. Após o nascimento prematuro, um dos bebês estava forte e saudável. O outro, a menina, estava fraca e correndo sério risco de não sobreviver a mais um dia. Seus sinais de vida na incubadora da UTI estavam cada vez mais pálidos e irregulares. Assistindo a sua luta pela vida se esvair e sem ter mais o que fazer, uma enfermeira seguiu o seu coração e resolveu colocar os dois bebês na mesma incubadora. Depois de algum tempo juntos, coincidência ou não, o movimento do bebê saudável resultou em um abraço carinhoso em sua irmã, já quase sem vida. E assim ficaram os dois, abraçados por longas horas. De modo quase mágico, e maravilhoso, os sinais vitais da menina começaram a melhorar. Ela começou a responder ao tratamento e recuperou as forças. Hoje os dois são crianças saudáveis, brincando e sonhando com um futuro cheio de felicidade. Os jornais da época estamparam na primeira página a foto “do abraço que salva”, “do abraço da vida”, “do abraço da compaixão”.
Portanto, que nós também tenhamos compaixão. Que possamos lembrar, e nunca esquecer, daquele sentimento bom que já nasceu dentro de nós e que a frieza da vida adulta muitas vezes transforma em “pena”.
Lembre-se que todos nós temos problemas. Muitas vezes colocamos o foco e damos tanta importância ao nosso problema que, ao dedicarmos nossa atenção total a ele, o transformamos em um gigante de sete cabeças cuspindo fogo pelas ventas. Nesse momento, em especial, é importante confiarmos em uma força muito maior que qualquer problema e que irá vencer nossas batalhas por nós. É importante dedicarmos algum tempo para compartilhar e ajudar nos problemas de outras pessoas. Assim, você verá seus problemas por uma perspectiva diferente. Perceberá seu tamanho real.
Tenha certeza que todos os sentimentos ruins associados ao seu problema irão se transformar, através da compaixão, em um sentimento de próposito e felicidade.